Brasília: Sindicato lança cartilha de saúde do bancário

O Sindicato dos Bancários de Brasília lançou nesta terça-feira (19) a cartilha “Cuidando do sofrimento no trabalho dos bancários”. O material foi apresentado durante o seminário do mesmo tema realizado no Teatro dos Bancários, na sede do sindicato, com a palestra da professora doutora da Universidade de Brasília (UnB) Ana Magnólia Mendes, que é coordenadora do Grupo de Estudos e Práticas em Clínica, Trabalho e Saúde (Gepsat), e pela psicóloga Fernanda Duarte, responsável pelo Programa de Atenção ao Sofrimento do Bancário no Sindicato.

A cartilha traz o perfil do bancário que procurou o atendimento da Clínica do Trabalho na Secretaria de Saúde do Sindicato nos últimos dois anos. Os dados apontam que entre os sintomas mais relatados estão sentimentos de tensão (87,3%), incapacidade de relaxar (86,1%), irritabilidade (83,5%) e inquietação (79,7%). Uma parcela significativa da amostra relata ainda que tem vontade de desistir de tudo (53,2%) e 38% expressam o sentimento de que não vale a pena viver.

Para a professora Ana Magnólia, que apresentou um panorama histórico dos momentos impactantes para o adoecimento dos trabalhadores, é preciso se preocupar com a “evolução robótica” que está acontecendo. Ela ainda apresentou reflexões sobre o sujeito que está sendo criado no mundo de hoje, com destaque para a subjetividade na base dos modelos de gestão que estão sendo construídos. Ana ressaltou que, embora disfarçada sob o discurso de modernidade e de inovação, as reestruturações frequentes nos modelos de produção e formas de organizar e gerir o trabalho, “estamos diante da velha luta entre capital e trabalho”.

“Antes era o sujeito da repetição do movimento, depois veio o gestor, empreendedor, com o individualismo sem nenhuma solidariedade e total destruição dos coletivos de trabalho. Hoje o bancário é obrigado a atuar na crise e a apresentar inovações. Precisamos pensar nisso e discutir o sofrimento e as novas formas de patologia, como a indiferença e a normopatia”, avaliou Ana.

Segundo o diretor da Federação Centro Norte (Fetec-CUT/CN) e membro do Coletivo de Saúde do Sindicato dos Bancários Wadson Boaventura, a lógica da individualização do trabalho torna as pessoas reféns de si mesmas. “Queremos mostrar que, de alguma forma, o capital se apropriou da nossa força de trabalho e está destruindo as nossas vidas. Queremos colocar nossa Secretaria de Saúde à disposição para o acolhimento e transformação”.

“Estamos vendendo nossa força de trabalho e temos de fazer o enfrentamento para garantir e avançar em direitos sempre, senão a apropriação do que a gente produz será só do capital ou do detentor dos meios de produção”, afirma o presidente do Sindicato, Eduardo Araújo. “Precisamos entender e buscar a prevenção para contribuir com a categoria bancária e toda a classe trabalhadora, nesta nossa constante luta de capital e trabalho”.

Nesta quarta-feira 20, o Coletivo Nacional de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) se reuniu com com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) na mesa de negociações permanente da Comissão Bipartite de Saúde no Trabalhado. O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) está entre os temas. “Queremos ter acesso aos dados do adoecimento da categoria e participar da elaboração dos programas de prevenção dos riscos de adoecimento e promoção de saúde da categoria”, complementa Eduardo Araújo, destacando que o Sindicato elegeu a luta pela saúde como prioridade das negociações coletivas desse ano.

Clínica do Trabalho
A Clínica do Trabalho é uma ação de atendimento aos bancários que faz parte do Programa de Atenção ao Sofrimento do Bancário. Trata-se da escuta clínica do sofrimento no trabalho e tem o objetivo de ressignificar o sofrimento. É voltada para a mobilização subjetiva e do coletivo de trabalho, e os dados coletados nessa ação contribuem para o desenvolvimento de ações políticas de transformação da organização de trabalho.

Ela surgiu a partir da parceria com o Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho da UnB e o Grupo de Estudos e Práticas em Clínica, Trabalho e Saúde. “É preciso colocar o sofrimento e o adoecimento relacionados ao trabalho em pauta, porque são questões atuais. É necessário reconhecer a humanidade destes trabalhadores, a dignidade destas pessoas e o direito à saúde como direito humano”, avalia Fernanda Duarte.

Segundo a secretária de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato, Mônica Dieb, a parceria com a academia é fundamental para a compreensão e a comprovação do processo de adoecimento pela organização do trabalho para fundamentar e subsidiar a ação sindical.

Ela destaca a importância da luta coletiva neste enfrentamento: “A saúde é um direito universal indissociável do direito à vida. A luta para garantirmos este direito deve ser coletiva e se pautar nos princípios e valores de igualdade entre as pessoas, solidariedade e justiça que inspiraram os direitos fundamentais conquistados ao longo do processo civilizatório".

Mônica finaliza afirmando que “a campanha ‘Você não está sozinho’ reflete muito bem a nossa ação sindical. Estamos juntos para acolher o trabalhador, para entender e intervir nesta realidade hoje e lutar neste cenário de crise social, econômica e contra a retirada de direitos, e convidamos todos e todas a participarem e se apropriarem dessa luta”.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram